No post anterior, falei um pouco sobre as características do couro, os principais tipos e expliquei como que é o couro atanado, tipo de pele que usamos na SRD. Também mencionei que explicaria o porquê de ainda utilizarmos pele natural, ao invés de usar alternativas animal free.
Não é uma demanda recente, há tempos clientes pedem para a gente opções veganas, entretanto incluir um material novo exige estudo. Quando se fala em um produto vegano, espera-se um produto limpo, sem matéria-prima animal e que seja limpo para o meio ambiente. Pensando nisso, o mercado mostra a opção mais óbvia: o “couro sintético”.
O Couro sintético consiste em uma base de tecido com um emborrachado por cima, derivado de petróleo. Existe em diversas cores/estampas/texturas. O mercado de sapatos e bolsas o usam muito para fazer produtos mais baratos e imitar o couro.
Mas why god a SRD não usa? Simples, por dois motivos:

- Durabilidade pífia. Enquanto uma bolsa que sofre baixo atrito já se deteriora em meses, uma fita de guidão ou selim sofreria envelhecimento precoce devido o alto atrito e exposição a intempéries, como o sal do suor, sol e chuva. Obsolescência programada pura, então pelo fato de durabilidade, não compensa. Com os cuidados adequados, artefatos de couro duram por décadas.
- Por que fazer um produto novo, sendo que já existe um subproduto proveniente do consumo de carne bovina? Sei que neste aspecto, de nenhuma forma se enquadraria como vegano, porém não faz o menor sentido optar por comprar um material sintético, poluente e não biodegradável, sendo que já tem uma opção que é “sobra” de outra indústria e ainda assim, não atenderia à premissas veganas. Optando por couro, um problema muito maior que deve ser questionado é rastrear como o curtume trata suas peles, como cuida de seus efluentes etc. O curtume que é nosso fornecedor é o Peles Minuano e fica No Rio Grande do sul. Possuem diversos certificados internacionais, que englobam desde qualidade de gestão, como responsabilidade social e ambiental. No link acima tem a descrição de todos os protocolos e certificados deles. Já dentro da SRD, procuramos excluir o máximo de produtos que sejam a base de solventes ou nocivos ao meio ambiente. Por isso, nossas tintas são feitas a base de etanol ou base d’água.
- Existem tentativas em andamento? Sim. Após alguns anos, achamos o que seria nosso material adequado para a produção de artefatos veganos e com mínimo impacto ambiental e este material é o algodão cru. Já fizemos alguns ensaios em 2019, gerando alguns resultados com boa estética, porém com diversos problemas funcionais ainda, como impermeabilização, despigmentação séria, causando mancha nas roupas de clientes e mãos. Mas foram promissores, sempre que tem uma brecha de tempo, tentamos retomar o assunto. Abaixo, algumas fotos de testes que fizemos com o algodão cru:
O grande diferencial do algodão cru é que ele tem sua produção muito limpa, possui diversas espessuras e é possível tingir ele. Provalvemente será o material escolhido para nossos produtos veganos.
Outras marcas possuem algumas soluções realmente funcionais e duradouras, cito principalmente a Fizik, que faz selins, fitas e sapatilhas em um material chamado microtex, porém nunca encontrei disponível em mercado brasileiro. Existe algumas outras soluções eco friendly, como a piñatex, Vegea ou até mesmo a Alcântara, material sintético italiano muito utilizado na indústria de carros super esportivos. O grande empecilho destes materiais mais modernos e inovadores é a disponibilidade no Brasil e seu preço. O único que conseguimos cotação foi o Pinãtex, que custa R$ 400 o mt² e tem uma série de restrições de uso. O contato foi feito pelo Vinícius Villas Boas, da Dinâmica Bicicletas.
Devido a isso, nosso caminho para a inclusão de primeiros produtos realmente veganos se daria por meio do Algodão cru. Precisamos estabilizar o processo e desenvolver técnicas para lidar com ele e dessa forma, teremos nossa linha vegana!
Após esse texto longo e denso, deixo uma galeria de imagens com alguns dos nossos melhores projetos executados recentemente. Espero que tenha conseguido esclarecer algumas dúvidas. Até a próxima.
Uma resposta para “O polêmico couro legítimo – Parte II”